segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aprender e Ensinar com Mais Efeito


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Autor: 
Élder Richard G. Scott
Author Bio: 
O Élder Richard G. Scott é membro do Quórum dos Doze Apóstolos. Este discurso foi proferido durante a Semana Educacional da BYU em 21 de agosto de 2007.

Sinto com vocês a emoção e a expectativa pelos eventos inspiradores que estão por vir ao darmos início à 85ª Semana de Educação no campus da BYU. Dou-lhes meus parabéns pela decisão de participarem dessa atividade extraordinária, e que vocês possam aprender e desenvolver-se por meio das experiências aqui compartilhadas. Não há nada como este evento em termos de qualidade. Eu, assim como vocês, tenho um desejo constante e contínuo de melhorar e crescer através de todos os meios de aprendizado que o Senhor nos proporcionou.
Ao viajar pelo mundo todo, é evidente para mim que conhecimento é poder. Alguns o usam para benefício próprio. Muitos empregam incorretamente o conhecimento, limitando gravemente o uso do arbítrio das outras pessoas. Porém há outras pessoas cujos talentos, conhecimento e experiência são aplicados para edificar, incentivar, motivar e abençoar aqueles ao seu redor. Tenho confiança de que os irmãos também o fazem. Vocês serão muito beneficiados pelo esforço e tempo despendidos aqui e, além disso, ajudarão outras pessoas ao aplicarem e compartilharem o que aprenderem. E seguirão a admoestação do Senhor: “E como nem todos têm fé, buscai diligentemente e ensinai-vos uns aos outros palavras de sabedoria; sim, nos melhores livros buscai palavras de sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118).
Ao iniciar esta atividade, agradeço ao Presidente Cecil Samuelson, aos vice-presidentes Fred Skousen e Sandra Rogers e ao irmão Neil Carlile, diretor da Semana Educacional da BYU por tornarem este evento possível. Agradeço também a cada uma das quase 200 pessoas que se dedicaram na cuidadosa preparação para abençoar vidas em quase 1000 classes e atividades que são o foco desta semana. Parabenizo-lhes por estarem aqui. Que esta possa ser uma experiência enriquecedora para todos nós.
O tema deste ano, “O Alvorecer de um Dia Mais Radiante”, é muito apropriado. Enfatiza a maravilha que é a Restauração do evangelho nesta dispensação. Qualquer estudante de História está consciente do fato de que a Restauração da Igreja, com sua doutrina pura, autoridade sacerdotal e orientação divina, desencadeou uma avalanche de descobrimentos, ideias e invenções que continuam a edificar a humanidade de forma poderosa. Quão grato sou ao nosso Pai Celeste pela restauração da verdade que nos chegou por meio do Profeta Joseph Smith para o benefício da humanidade. Joseph Smith é um exemplo muito inspirador de um indivíduo que ao longo de sua curta
vida sempre procurou conhecimento e compartilhou-o livremente com os outros, apesar disso ter-lhe custado a vida.
A minha intenção agora é compartilhar algumas ideias de como aprender
e ensinar com eficácia.

Como Aprender com Mais Eficácia
Há inúmeros meios pelos quais podemos aprender e aperfeiçoar-nos. Alguns deles são o estudo formal, a ponderação, a análise, a experiência própria, a observação cuidadosa, os mentores, seguir o exemplo de pessoas extraordinárias, servir de boa vontade e aprender através dos nossos erros. Não seria realista procurar identificar, mesmo de forma resumida, os infinitos meios pelos quais podemos adquirir conhecimento e ganhar experiência. Por esse motivo resolvi falar do que para mim é o caminho mais eficaz que nos levará à verdade e à fonte inextinguível de orientação e inspiração de nosso Pai Celeste e de Seu Filho Amado. Esse caminho consiste na orientação e inspiração por meio do Espírito Santo. Juntos edificaremos um alicerce para compreender a orientação espiritual e descobrir como obtê-la e transmiti-la aos outros. Meu sincero desejo é proporcionar-lhes motivação para que aumentem sua capacidade de adquirir conhecimento para o seu benefício eterno e para abençoar as pessoas com quem o compartilharão.
Também mencionarei algumas das importantes verdades que aprendi ao buscar a orientação do Espírito Santo. E como reconheço que muitos dos irmãos foram motivados para estarem aqui por um forte desejo de ajudar os outros, vou sugerir-lhes maneiras para ensinarem estas verdades. Seria bem mais fácil ensinar-lhes se pudéssemos conversar pessoalmente. Felizmente, vocês quase sempre poderão interagir com as pessoas que estiverem ensinando, mesmo quando se tratar de um só membro da família. Sua instrução será mais benéfica e mais duradoura se incentivarem a participação dos alunos.
Para começar, compartilharei com vocês uma verdade do evangelho que, se for comunicada com eficácia e praticada constantemente na sua vida, compensará todo esforço que fizeram para chegar à Semana de Educação, mesmo que não façam mais nada aqui. Essa verdade os ajudará a aproveitar ao máximo este momento que passaremos juntos, o restante desta conferência e outras experiências significativas no decorrer da vida de vocês. Observo que muitos vieram preparados para tomar nota do que vão ouvir aqui. Embora isso seja de grande proveito, vou compartilhar um padrão que lhes proporcionará até mais acesso à verdade. Resume-se nesta declaração:
“Pelo resto de minha vida procurarei aprender através daquilo que ouço, vejo e sinto. Escreverei as coisas importantes que eu aprender e vou praticá-las”.
Sugiro que escrevam isso. Se eu terminasse o discurso agora mesmo, já teriam recebido um dos meios mais significativos de aprendizagem que eu poderia lhes dar. Se esse princípio que acabei de citar não parecer importante, pensem a respeito dele. Muitas das lições essenciais que tenho aprendido e entesourado foram aprendidas ao seguir esse princípio cuidadosamente.

Como Responder aos Sussurros do Espírito
Vocês poderão aprender princípios de suma importância pelo que ouvem veem, e também pelo que sentem, conforme inspirados pelo Espírito Santo. Muitas pessoas limitam o seu aprendizado ao que ouvem ou leem. Sejam sábios! Desenvolvam também o talento de aprender por meio daquilo que se observa ou , e, principalmente, por meio daquilo que o Espírito Santo os inspira a sentir. Desse modo sua capacidade de aprender crescerá por meio da prática repetitiva. São necessários fé e esforço significativos para aprender pelo que se sente mediante o Espírito. Peçam tal ajuda com fé. Levem uma vida digna de receberem tal orientação.
Escrevam e guardem num lugar seguro as coisas importantes que aprenderem do Espírito. Vocês perceberão que, ao registrarem uma impressão preciosa, muitas vezes surgirão ainda mais ideias que de outra forma não teriam recebido. Saliento que o conhecimento espiritual que se recebe estará disponível ao longo da vida de vocês. Sempre, de dia ou de noite, não importa onde ou o que estejam fazendo, procurem reconhecer e responder à orientação do Espírito. Tenham à mão um pedaço de papel ou um cartão para registrar tal orientação.
Deem graças ao Senhor pela orientação espiritual que receberem e obedeçam-na. Esse hábito reforçará sua capacidade de aprender pelo Espírito e aumentará a orientação vinda do Senhor na sua vida. Vocês aprenderão mais ao colocarem em prática o conhecimento, a experiência e a inspiração transmitidos pelo Espírito Santo.
A orientação espiritual é a direção, o esclarecimento, o conhecimento e a motivação que  recebemos de Jesus Cristo através do Espírito Santo. Trata-se
de instrução personalizada e adaptada a suas necessidades individuais por Aquele que as compreende perfeitamente. A orientação espiritual é um dom de valor incomparável concedido àqueles que a buscam, levam uma vida digna e agradecem ao Senhor por essa orientação.
As escrituras nos ensinam como podemos tornar-nos merecedores da orientação espiritual. O Élder Bruce R. McConkie nos deu este conselho sábio: “Por mais talentosos que sejam os homens em assuntos administrativos; por mais eloquentes que sejam em exprimir suas ideias; por mais eruditos que sejam quanto às coisas do mundo, se não pagarem o preço através do estudo e da ponderação das escrituras, e orarem a seu respeito, ser-lhes-ão negados os sublimes sussurros do Espírito que poderiam ter recebido”.[1] Ao estudar e orar acerca de certas escrituras, descobri que o seguinte modelo é muito útil na obtenção de orientação espiritual.
Para adquirir orientação espiritual e obedecer com sabedoria, deve-se:
• Buscar a luz divina com humildade
• Exercer fé, especialmente em Jesus Cristo
• Procurar guardar Seus mandamentos diligentemente
• Arrepender-se constantemente
• Orar continuamente
• Obedecer à orientação espiritual
• Agradecer pela orientação recebida
Que essas sugestões possam ajudá-los na busca de orientação espiritual.

Ensinar Outros a Aprenderem do Espírito
Agora veremos como se pode ensinar o princípio de aprendizado que já mencionei aos outros. Se eu estivesse ensinando, primeiro recomendaria que cada aluno escrevesse o princípio: “Pelo resto de minha vida procurarei aprender através daquilo que ouço, vejo e sinto. Escreverei as coisas importantes que aprender e vou praticá-las”.
Então, explicaria como usar cada um dos três meios de comunicação: ouvir, ver e sentir. E procuraria incentivá-los a se comprometerem a viver o princípio, pois cada aluno que fizer isso receberá a bênção de grande orientação espiritual em sua vida.
Depois, eu mostraria a seguinte série de gráficos sobre como melhorar o aprendizado.
Minha intenção é mostrar-lhes como podem ajudar os outros a qualificarem-se para serem guiados pelo Espírito e reconhecerem que quando receberem tal orientação deverão escrevê-la e obedecê-la.
As pessoas que vocês ensinam vivem num mundo onde estão sujeitos a desafios e tentações. Estou convencido de que sem a ajuda do Espírito é difícil evitar a transgressão no mundo de hoje. Quando alguém faz uma escolha errada, amarra-se ao pecado.
 Vocês podem motivar o aluno a viver a fim de receber a influência do Espírito e reconhecer Sua orientação para que seja abençoado ao obedecê-la. Vocês poderão desempenhar um papel essencial nesse processo.
Ao ensinar a doutrina adequada e explicar como o Senhor Se comunica pelo Espírito, seus alunos terão a experiência de serem guiados pelo Espírito. Aprenderão os princípios sobre os quais tal comunicação se baseia. Ao aplicarem esses princípios, farão escolhas corretas na vida.
É muito comum o professor somente dar conselhos ao aluno sem interação. Às vezes não há explicação de por que existem mandamentos, regras e padrões. O professor é apenas uma pessoa que fala sem parar.
 A maioria do ensino neste mundo se baseia nos sentidos—audição, visão, tato, olfato e paladar. Na sua sala de aula, vocês poderão ensinar pelo poder do Espírito.
 Tal comunicação começa quando se incentiva cada um dos alunos a participar em vez de ser um mero ouvinte passivo. Dessa maneira, poderão avaliar se o aluno entendeu o que foi ensinado e assim o próprio professor também aprenderá. E o que é mais importante: a participação do aluno é uma forma de exercer o arbítrio, assim permitindo que o Espírito Santo comunique uma mensagem pessoal, adaptada às necessidades individuais. Criar um ambiente de participação aumenta a probabilidade do Espírito ensinar lições mais importantes do que os irmãos podem transmitir.
 Tal participação trará a orientação do Espírito para a vida dos alunos. Quando se incentiva o aluno a levantar a mão e responder a uma pergunta ele, embora talvez não reconheça, indica ao Espírito Santo que tem vontade de aprender. Tal uso de seu arbítrio moral permitirá que o Espírito motive o aluno e dê-lhe uma orientação mais poderosa durante a aula. A participação faz com que as pessoas tenham a experiência de serem guiadas pelo Espírito. Elas aprendem a reconhecer e sentir o que é a orientação espiritual. Por meio da repetição do processo de sentir impressões, registrá-las e obedecer a elas é que se aprende a depender mais da orientação do Espírito, sim, muito mais do que a comunicação pelos outros cinco sentidos.
Sua capacidade de ensinar aumenta pela orientação que vocês recebem do Espírito Santo. Para dizer de forma simples e clara: a verdade, quando é apresentada num ambiente de amor verdadeiro e confiança, qualifica uma pessoa para receber o testemunho do Espírito Santo.
Se no seu relacionamento com os alunos vocês não conseguirem nada além de ajudá-los a seguir os sussurros do Espírito, terão abençoado a vida deles de maneira imensurável e eterna. Para isso, os irmãos precisam buscar sempre a orientação do Espírito para saber o que dizer e como dizê-lo.
Estou convencido de que não há nenhuma técnica nem fórmula simples que eu possa dar-lhes ou que vocês possam dar a seus alunos, que facilite instantaneamente  a habilidade de ser guiado pelo Espírito Santo. Tampouco creio que o Senhor permita que alguém invente um modelo que possa abrir de modo invariável e imediato os canais de comunicação espiritual. Nós crescemos ao lutarmos para reconhecer e receber a inspiração do Espírito Santo e ao esforçar-nos para comunicar-nos com nosso Pai Celestial nos momentos de necessidade ou de imensa gratidão. Cada vez que nos esforçarmos neste sentido, daremos um passo à frente no cumprimento do propósito de estarmos aqui na Terra.
Nosso Pai espera que aprendamos a obter a ajuda divina por meio da fé Nele e em Seu Santo Filho. Se fôssemos receber orientação inspirada sem nenhum esforço, nós nos tornaríamos fracos e cada vez mais dependentes Dele. Ele sabe que o crescimento pessoal e essencial provém da luta para aprender a sermos guiados pelo Espírito. Essa luta molda nosso caráter imortal e aperfeiçoa nossa capacidade de reconhecer Sua vontade através dos sussurros do Espírito Santo. O que a princípio parece um trabalho assustador se tornará mais suave ao longo do tempo, se nos esforçarmos constantemente para identificar as sensações que o Espírito desperta em nós. A confiança na orientação que recebemos por meio do Espírito Santo também será grandemente fortalecida.
As coisas fáceis nunca produzem frutos benéficos. Nem Nosso Pai que está no céu ou Seu Santo Filho sentem prazer em ver-nos lutar para sobrepujar obstáculos, resolver dúvidas ou achar soluções para problemas complexos e desafiadores. Porém, Eles se regozijam quando reconhecemos voluntariamente que esses são passos para o crescimento e que nos conduzem aos atos que moldarão em nós um bom caráter.

Entesourar as Impressões Sagradas
Vocês já aprenderam o valor permanente de manter um registro das experiências espirituais importantes e das impressões sagradas que o Senhor lhes comunicou? Não tenho um diário detalhado dos acontecimentos cotidianos, mas procuro manter um registro de alguns assuntos de muita importância. Guardo as experiências espirituais num registro protegido por senha que mais ninguém pode acessar. Quando me sinto autorizado pelo Espírito Santo, tiro algumas dessas verdades que aprendi e coloco-as num diário familiar ou compartilho-as num discurso público. Faço isso de acordo com um princípio cuja veracidade é confirmada pelas escrituras. Algumas revelações são para nossa orientação e edificação, para ajudar-nos a crescer e a aprimorar nossa devoção,  nosso caráter e testemunho. Essas coisas não se destinam a outras pessoas. Assim como a bênção patriarcal, essas revelações são adaptadas para cada um e devem ser protegidas com reverência devido a sua essência sagrada. Qualquer assunto sagrado que o Senhor queira comunicar a terceiros será transmitido diretamente pelo Espírito, se esses forem dignos e estiverem sintonizados.
Para confirmar que o que estou falando não é somente teoria, mencionarei algumas verdades preciosas que aprendi ao longo dos anos pela orientação espiritual.
• As escrituras nos ensinam (e foi-me confirmado por inspiração) que o Espírito Santo nunca nos inspirará a fazer algo que não possamos fazer. Pode ser que requeira um esforço extraordinário, muito tempo, paciência, oração e obediência, mas teremos condições de fazê-lo.
• Por muitas vezes fui inspirado a aprender que para alcançar uma meta nunca antes alcançada, deve-se fazer coisas que jamais foram feitas.
• Foi-me ensinado que podemos fazer muitas escolhas na vida, mas não podemos determinar nosso próprio destino final. São nossas ações que o fazem. Pode parecer que controlamos os resultados de nossa vida, mas não os controlamos. A dignidade, a retidão, a fé em Jesus Cristo e o plano de nosso Pai asseguram um futuro produtivo e agradável, enquanto mentir, enganar ou violar as leis de castidade pessoal asseguram uma vida de miséria tanto aqui na Terra como além do véu, a não ser que haja o devido arrependimento.
• É importante não julgar a nós mesmos pelo que pensamos saber do nosso potencial. Devemos confiar no Senhor e no que Ele pode fazer, utilizando nosso coração dedicado e a mente disposta a fazer Sua vontade (ver D&C 64:34).
• Aprendi através do Espírito Santo e ao observar os outros que os conceitos como a fé, a oração, o amor e a humildade não têm grande significado e não produzem nenhum milagre, a não ser que se tornem uma parte viva do nosso ser por meio de nossas experiências pessoais acompanhadas dos sussurros sublimes do Espírito.
• Todos nós passaremos por adversidade; faz parte da vida. Todos nós passaremos por ela, pois precisamos dela para crescermos e para formarmos um caráter reto. Aprendi que o Senhor tem uma infinita capacidade de julgar a nossa intenção. Ele Se preocupa com o que será de nós devido às escolhas que fazemos. Ele tem um plano individual para cada um de nós. Essa ideia é muito consoladora para nós quando procuramos entender coisas difíceis como a morte inesperada de alguém de que tanto precisamos aqui na Terra. Ela nos ajuda quando sofremos devido a uma doença ou uma deficiência física ou até mesmo quando somos abalados com a notícia de um suicídio trágico de alguém.
• A experiência própria me levou a compreender uma verdade importante. Sei que Satanás não tem poder algum de forçar as atitudes de uma pessoa reta e decidida, porque o Senhor protege tal pessoa do poder do diabo. Satanás pode tentar, pode ameaçar, pode até parecer ter tal poder, mas ele não o possui.
• Aprendi que nossa mente pode magnificar uma impressão do Espírito Santo ou, infelizmente, destruí-la por completo se a rejeitarmos como se fosse algo sem importância ou fruto de nossa própria imaginação. Quando a orientação espiritual chega, é bom ter em mente este comentário do Profeta Joseph Smith: “Deus julga os homens de acordo com sua utilização da luz que Ele lhes dá.”[2]
• Ao enfrentarmos a adversidade, poderemos ser levados a fazer muitas perguntas. Algumas delas têm um propósito útil, outras não. Na verdade não adianta fazer perguntas que refletem oposição à vontade de Deus. Estar disposto a sacrificar profundos desejos pessoais em favor da vontade de Deus é, de modo geral, algo muito difícil de fazer. Porém, quando assim fazemos, colocamo-nos numa posição fortíssima de receber o máximo de ajuda do nosso carinhoso Pai Celestial. Aceitar Sua vontade, mesmo não sabendo por que, traz-nos grande paz de espírito e, depois de um tempo, a compreensão virá.
• É muito difícil, às vezes, discernir a resposta a nossa oração referente a um assunto pelo qual temos profundos sentimentos pessoais ou fortes emoções. É por isso que é importante recebermos conselhos válidos e inspirados ao nos encontrarmos em tais circunstâncias.
• Num momento de calma meditação aprendi que há uma relação entre a fé e o caráter. Quanto mais fé temos em Jesus Cristo, mais se fortalece nosso caráter, e um caráter fortalecido aumenta nossa capacidade de exercer  uma fé ainda maior.
• O Espírito ensinou-me que Satanás não precisa nos tentar a fazer coisas más. Ele consegue grande parte de seu objetivo ao nos distrair com muitas coisas aceitáveis, assim, desviando-nos para que não façamos as coisas essenciais. Precisamos frustrar essa distração por meio de identificar o que é de suma importância na vida. Devemos dar o melhor de nós para atingirmos esse objetivo. Quando o tempo e os recursos são limitados, seguir esse padrão pode requerer que deixemos de lado algumas atividades boas, mas não essenciais.
• Em certas ocasiões, o Senhor nos dará orientação espiritual vital por meio da inspiração dada a outros ao compartilharem conosco o que aprenderam. Tais mentores podem enriquecer grandemente nossa vida por meio da comunicação gentil de seu conhecimento e de suas experiências. Podemos encontrar mentores, vivos e falecidos, pelo estudo e pela imitação de sua vida produtiva. Tenho certeza de que o falecimento recente do Presidente James E. Faust trouxe à mente de milhares de pessoas inspiradas por ele uma imensa gratidão por seu incentivo e motivação. Ele possuía uma capacidade enorme de elevar e edificar as pessoas. Ao dirigir-se a elas, buscava razões válidas para elogiá-las com sinceridade e integridade. O resultado foi o de edificar, elevar e ajudar essas pessoas a descobrir o caminho na vida que lhes traria maior sucesso e felicidade. A forma de ele encorajar as pessoas muitas vezes era breve e sucinta, porém muito eficaz e duradora.
• Um dos meios mais memoráveis e poderosos de comunicação do Espírito são os sonhos. Aprendi que quando a transição entre o sono profundo e estar totalmente desperto parece quase imperceptível é sinal que o Senhor nos ensinou algo muito importante através de um sonho. Quando isso ocorre, reconheço a necessidade de meditar a respeito daquilo de que me lembro do sonho e procurar entendê-lo e aplicá-lo em minha vida. Às vezes um sonho é simbólico e requer que oremos para que, por meio do Espírito Santo, o Senhor possa interpretar ou esclarecer as lições a serem compreendidas e aplicadas.
Ao longo da maior parte de minha vida de jovem e adulto, tenho apreciado muito a misericórdia. Foi através de um sonho vívido que também aprendi a entesourar a justiça. A justiça dá ordem e controle ao plano de felicidade do nosso Pai Celestial. Assegura-nos de que o que nós ganhamos pelo esforço digno será sempre nosso, tal como o conhecimento, o amor aos entes queridos e os benefícios eternos das ordenanças, inclusive as do templo. A justiça garante que nenhum poder pode tirar de nós essas coisas preciosas. Poderíamos perdê-las devido à desobediência, mas quem iria querer fazer isso?
• A ordem do Salvador: “Pedi e recebereis; batei e ser-vos-á aberto” (3 Néfi 27:29) é o portão que se abre para a orientação espiritual. Foi-me ensinado que sussurros mansos nos incentivarão a tomar decisões certas. Quando observadas cuidadosamente, essas impressões que entram no nosso coração serão seguidas de conselhos específicos transmitidos a nossa mente. Esses conselhos nos levarão a entender com mais precisão o que devemos fazer. Tal direção detalhada nos vem quando atendemos prontamente à inspiração do Espírito. Às vezes tal direção espiritual nos indica ou dá-nos a entender eventos que ocorrerão mais tarde na vida. Se aceitarmos ou não tal inspiração, se obedecermos ou não, a vontade do Senhor não mudará. O que muda é o impacto na nossa vida. Haverá consequências positivas bem mais significativas de acordo com o nosso desejo em obedecer aos conselhos dados pela orientação do Espírito Santo.
• Há mais uma joia preciosa de orientação espiritual que eu gostaria de compartilhar. Levou-me muito tempo para reconhecê-la. A obediência forçada não produz frutos duradouros. É por isso que tanto nosso Pai Celestial como o Salvador estão dispostos a pedir, sussurrar, encorajar e esperar com paciência que nós reconheçamos Sua preciosa orientação espiritual. Certa vez levou mais de dez anos para eu descobrir a resposta a uma questão importante sobre a qual eu tinha orado constante e fervorosamente. A resposta completa veio ao juntar as partes da solução comunicadas a mim de formas diferentes em horas diferentes. A resposta não foi dada diretamente, mas fui guiado com amor e paciência até encontrá-la.
Encerro com o meu testemunho. Procurarei seguir os excelentes conselhos do Presidente Spencer W. Kimball. Ele ensinou: “Um testemunho não é exortação; um testemunho não é um sermão; . . . não é um relato sobre viagens. . . . É somente dizer o que sentimos intimamente. Isso é testemunho. No momento em que começam a pregar aos outros, seu testemunho termina. Digam-nos o que sentem, o que a mente, o coração e toda fibra de seu ser lhes dizem.”³[3]
Sei que as coisas que lhes disse são verdadeiras, pois eu as aprendi. Foram-me confirmadas pelos sussurros delicados do Espírito Santo. Que algumas delas sejam de proveito para os irmãos! Sei que Jesus Cristo vive e como um de Seus apóstolos presto solene testemunho de que Ele é um personagem glorificado e ressurreto de perfeito amor. Ele guia Sua Igreja na Terra. Ele os ama. Durante Sua presença aqui Ele os inspirará. Ele guiará a vida de vocês ao procurarem identificar tais sussurros. Ele é nosso Mestre, nosso Redentor, nosso Salvador. Eu O amo. Com toda capacidade que possuo presto testemunho de que Ele vive. Em nome de Jesus Cristo, amém.

Notas


[1] Bruce R. McConkie, Seminário dos Representantes Regionais, 2 de abril de 1982.
[2] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith [Ensinamentos do Profeta
Joseph Smith], compilado por Joseph Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 303.
[3] Teachings of the Presidents of the Church: Spencer W. Kimball [Ensinamentos
dos Presidentes da Igreja: Spencer W. Kimball] (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 2006), 76–77.

sábado, 4 de junho de 2011

"Pensando no Passado Distante": Considerações sobre Raças, Pre-Existência, e Mortalidade (1) por Marcus H. Martins, Ph.D





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Em Maio de 1998, um artigo publicado no jornal Los Angeles Times causou considerável discussão entre muitos Santos dos Últimos Dias nos Estados Unidos. O artigo relatou que alguns indivíduos estariam solicitando à Autoridades Gerais da Igreja que repudiassem certas declarações feitas no final do século 19 e início do século 20 a respeito do status de negros e outras raças que não a branca no evangelho.
Três meses depois eu tive a chance de apresentar palestras sobre a "Declaração Oficial-2" contida no livro "Doutrina e Convênios" para aproximadamente 800 professores e administradores de seminários e institutos de religião no simpósio anual do Sistema Educacional da Igreja, realizado na Universidade Brigham Young. A reação altamente positiva que recebi como resultado daquelas palestras, bem como de várias outras palestras que apresentei em outras partes dos Estados Unidos, me levaram a crer que a maioria dos Santos dos Últimos Dias de hoje em dia acham difícil conciliar aquelas declarações sobre relações raciais feitas no passado distante com a compreensão moderna da universalidade do evangelho restaurado.
Eu não posso falar oficialmente pela Igreja; entretanto, como um de seus sumo sacerdotes eu posso pelo menos partilhar alguns dos meus pensamentos sobre o assunto obtidos ao longo de anos de estudo intenso e do exercício da fé. Desde já preciso deixar claro que eu respeito aqueles homens que várias décadas atrás propuseram idéias que hoje podemos achar difíceis de conciliar. Eles foram homens de grande fé que muito sacrificaram por essa Igreja, e eu reconheço a divindade de seus chamados. As declarações que fizeram a respeito de questões raciais representam uma parcela ínfima de ministérios que em outros aspectos foram poderosos e inspiradores. Eu prefiro me concentrar no legado positivo que eles nos deixaram-um legado de fé, boas obras, e sacrifícios pelo reino. Dado o meu desejo de seguir os mandamentos do Salvador, eu sinto a disposição de perdoar quaisquer daqueles homens por possíveis ressentimentos que tenham tido em relação a alguém como eu. Como eu tenho afirmado em várias ocasiões, uma vez que o Senhor tem perdoado as minhas falhas, quem sou eu para não perdoar as falhas dos meus irmãos?
Isto posto, quero começar prestando o meu testemunho da veracidade do evangelho restaurado. Eu sei pelo poder do Espírito Santo que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é o reino de Deus na terra, liderado por verdadeiros profetas do Altíssimo, portadores do sacerdócio de Deus, e que recebem revelações do Todo-Poderoso para guiar e abençoar nossas vidas tanto no tempo como na eternidade. Nossa doutrina é sã. E quando focalizamos os princípios fundamentais derivados das revelações modernas, encontramos conforto e contínua afirmação de que a despeito de quaisquer outros fatores somos literalmente irmãos e irmãs-filhos do mesmo Deus.
Há alguns anos atrás, após ponderar nas doutrinas restauradas sobre a existência pré-mortal e sobre as possibilidades futuras disponíveis à toda humanidade através da expiação de Jesus Cristo, eu compreendi que por causa do chamado véu do esquecimento nós não conseguimos recordar as nossas verdadeiras identidades. Durante a nossa experiência mortal tudo o que sabemos a respeito de nossa identidade baseia-se no que outras pessoas acham que nós somos, e no que nós mesmos achamos que somos.
Contudo, neste estágio mortal frequentemente tendemos a nos julgar mutuamente baseados em critérios externos. Notamos e categorizamos os aspectos físicos dos nossos corpos: cor de pele e olhos, tipo de cabelo, ou então acessórios tais como roupas, carros, propriedades, ou outros aspectos mais ou menos intangíveis como idiomas, sotaques, conhecimento, sabedoria, experiência profissional, honrarias, títulos, graus, etc. Em geral, estas imagens externas, ou fachadas, são tudo o que vemos uns nos outros, e quase sempre nos satisfazemos com esse tipo de conhecimento.
O segundo tipo de auto-conhecimento-aquele provido pela resposta à pergunta "o que achamos que somos"-me parece uma alternativa melhor porque, se acreditamos no evangelho restaurado de Jesus Cristo, tal pergunta permite que nos vejamos corretamente dentro do contexto de duas doutrinas básicas: nossa filiação divina e a expiação do Senhor Jesus Cristo. 

Nossa Verdadeira Identidade e Valor 
O conhecimento de nossa filiação divina e da expiação têm um papel crítico no redescobrimento de nossa verdadeira identidade. De acordo com essas doutrinas, todos os seres humanos-quer sejam asiáticos, caucasianos, negros, hispânicos, ou qualquer outra variação ou combinação racial-são progênie de Pais Celestiais, criados em sua imagem e semelhança. Consequentemente, dentro de cada um de nós-a despeito de quem sejamos, de onde ou como vivamos-brilha a centelha da divindade, na forma de características e virtudes divinas, e potencial ilimitado.
Falando a respeito do nosso valor, o Senhor disse: "Lembrai-vos de que o valor das almas é grande à vista de Deus; Pois eis que o Senhor vosso Redentor sofreu a morte na carne.(2)" Paulo ensinou nós fomos comprados por Cristo através do seu sangue(3). Porisso, a expiação provê uma resposta à antiga questão filosófica sobre o valor da vida humana. Cada ser mortal vale a vida do Salvador-e visto que ele é Deus, infinito e eterno(4), podemos afirmar que cada membro da família humana possui um valor infinito.
Baseado nos incompletos relatos escriturísticos disponíveis no final do século 20, parece que por um certo período de tempo após a Queda de Adão deve ter existido uma única raça sobre a terra. Hoje em dia só podemos especular quanto à verdadeira aparência daquela primeira raça. Nos primeiros anos desta dispensação, os profetas Joseph Smith Jr. e Lorenzo Snow ensinaram que numa certa época da eternidade o próprio Deus habitou um planeta como o nosso(5). Se refletirmos sobre este ensinamento por algum tempo, concluiremos que certamente ele teve uma família, um trabalho, uma cultura, uma nacionalidade, e poderemos também admitir como inevitável que ele tenha pertencido a algum tipo de grupo racial, inimaginável na atualidade. E isto inevitavelmente nos leva às seguintes perguntas: Poderia o Senhor, em sua existência mortal, ter experimentado algum tipo de preconceito ou discriminação? Poderia ele ter passado pelas mesmas experiências que certos grupos raciais ou étnicos já passaram (ou estão passando) no nosso planeta? Se assim for, será que ele permitiu que tais coisas acontecessem a fim de que melhor entendêssemos sua experiência e a extensão de sua misericórdia e amor?
Infelizmente, no momento não temos respostas definitivas para essas perguntas; porisso as deixaremos para as pesquisas proféticas do futuro. Mas, se tais suposições forem verdadeiras, seria concebível que as palavras de Deus para aqueles que sofrem poderiam ser:
"Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento; ... Sê paciente nas tuas aflições, pois terás muitas; suporta-as, contudo, pois eis que estou contigo até o fim dos teus dias. ... Sê paciente nas aflições, não injuries aos que te injuriarem. ... Ai do mundo por causa das [ofensas;] porque é mister que venham [ofensas,] mas ai daquele homem por quem a [ofensa] vem!(6)"

Espíritos e Glória: Visualizando a Vida no Mundo Pré-Mortal 
Como teria sido a vida de um espírito pré-mortal? Com as revelações atualmente disponíveis não podemos compreender-ou melhor, lembrar-nosso ambiente pré-mortal por causa das limitações físicas temporárias impostas como resultado da Queda de Adão. Na minha opinião atual, ao invés de um véu ou cortina tangível, o chamado véu do esquecimento poderia muito bem ser apenas uma condição temporária causada pela inabilidade de nossa imperfeita mente mortal de processar informações perfeitas e imortais(7). Se isso for verdade, nós não "esquecemos" a nossa vida e labores pré-mortais; simplesmente o nosso cérebro mortal é incapaz de acessar inteiramente as informações que estão permanentemente gravadas no nosso cérebro espiritual.

Usando uma analogia geométrica rudimentar, podemos dizer que a tentativa de entender assuntos eternos usando ferramentas mortais seria comparável à tentativa de conectar todos os pontos de um círculo com todos os pontos de uma linha reta inflexível. A linha reta tocaria o círculo em somente dois pontos de cada vez, e uma conexão com todos os pontos só seria possível deslizando a reta sobre o círculo ao longo do tempo. Em outras palavras, uma conexão da reta com todos os pontos do círculo só seria possível incrementalmente, mas nunca simultâneamente.
Porém, a despeito desta limitação o conhecimento perfeito e imortal não é inteiramente inacessível aos mortais. A vida mortal se tornou possível pela combinação de matéria terrestre corruptível e matéria espiritual glorificada. Através do poder do Espírito Santo uma pessoa pode "sentir" a realidade dos reinos eternos e a veracidade de conceitos celestiais mesmo enquanto temporariamente incapaz de vê-los ou entendê-los completamente. O Senhor declarou que os elementos são o tabernáculo de Deus, e que os próprios seres humanos são o tabernáculo de Deus(8). Dessa forma, uma vez que nossos imperfeitos corpos mortais são vivificados por um grau infinitesimal do poder divino, nossa mente mortal pode perceber ou sentir conceitos eternos quando sente as insinuações ou impressões da eternidade transmitidas pelo poder do Espírito Santo. O profeta Joseph Smith ensinou: "Todas as coisas ... que Deus ... achou conveniente revelar-nos, enquanto vivemos na mortalidade, ... são-nos reveladas de maneira abstrata e independente da afinidade desse tabernáculo mortal, mas são reveladas ao nosso espírito precisamente como se não tivéssemos corpo algum ...(9)"
Usando outra analogia rudimentar, observemos uma corrente elétrica passando pela água. Embora a água ofereça resistência à passagem da corrente elétrica, os minerais em suspensão na água conduzirão a eletricidade. O mesmo poderia ser dito em relação à interação do Espírito do Senhor com nossas almas(10). Muito embora os elementos decaídos de nossos corpos ofereçam resistência ao poder do Espírito Santo, os elementos espirituais de nossas almas permitirão que esse poder e seus consequentes efeitos--conhecimento, discernimento, e dons--fluam através de nós, se usarmos as ordenanças e procedimentos purificadores e santificadores prescritos pelo Senhor.

Uma palavra de cautela é necessária neste ponto. Ao tentar visualizar a vida no mundo pré-mortal é preciso ter cuidado com o uso de definições mortais imperfeitas para explicar conceitos perfeitos e imortais. Por exemplo: em mundos perfeitos e imortais noções tais como progresso; fé; inteligência; nobreza; arbítrio; e valor ou bravura, se referem a processos e atributos muito além da nossa imperfeita compreensão mortal.
Apenas como exemplo, consideremos por um momento o conceito de inteligência (aqui definido como intelecto, razão, ou erudição) num ambiente imortal. Um dos primeiros Apóstolos dessa dispensação, Élder Parley P. Pratt, definiu matéria espiritual como "uma substância ... santa ... pura ... dotada de atributos intelectuais e disposições aprazíveis" e definiu um espírito como sendo "uma inteligência individual, um agente dotado de vida, com um grau de independência, ou vontade inerente, com os poderes de locomoção, raciocínio, e com os atributos de disposições e emoções morais, intelectuais, e aprazíveis ... possuindo olhos para ver, ouvidos para ouvir, mãos para manipular; como possuindo os órgãos do paladar, do olfato, e da fala.(11)"
Um outro Apóstolo, Élder Orson Pratt, acreditava que os espíritos possuem uma habilidade intelectual muito além das possibilidades mortais. Ele declarou:
"No estado espiritual, temos razão para crer que ... [o] meio de comunicação será adaptado à natureza e capacidade da mente de absorver uma variedade de assuntos e assimilá-los de uma só vez. ... [Existe] uma linguagem no mundo espiritual que pode comunicar à mente mais em um minuto do se que poderia aprender aqui em cem anos de intenso estudo e análise. Existe uma eternidade de conhecimento. Existem mundos, por assim dizer, inumeráveis; reinos inumeráveis; personagens inumeráveis; inumeráveis seres intelectuais de todos os graus e ordens; e todos eles possuem suas leis, seus governos, seus reinos, seus tronos, suas principalidades, seus poderes, todos se movendo e agindo na esfera na qual foram colocados; ... imperfeições serão eliminadas, e seremos capazes de pelo poder do Espírito Santo obter um idioma pelo qual os anjos falam, e pelo qual uma ordem superior de seres fala, e por esse meio atingir um maior grau de conhecimento, o qual produzirá uma maior medida de felicidade.(12)"
Baseado nestas declarações, a idéia de que certos espíritos pré-mortais possam ter sido ignorantes, estúpidos, ou indecisos, não pode ser aceita. Consequentemente, se certos espíritos pré-mortais que escolheram seguir o Salvador tiveram um menor grau de algum atributo ou característica, podemos dizer que aqueles mesmos espíritos provavelmente tinham inteligência, poder, conhecimento, pureza e santidade em grau superior ao do mais justo (porém ainda imperfeito) ser mortal. Os mortais só podem ser considerados superiores aos espíritos no sentido de que possuem corpos tangíveis com suas consequentes oportunidades de desenvolvimento e potencial de futura glorificação(13) possibilitados pela Queda e a Expiação.Portanto, conceitos tais como: progresso, inteligência, bravura ou valor, devem ser usados com cuidado quando referindo-se às correspondentes virtudes perfeitas encontradas nos mundos eternos. Sem esse cuidado, as definições mortais para tais conceitos podem acabar sendo fortemente influenciadas por preconceitos sociais imperfeitos e ocasionalmente detestáveis. O uso descuidado de imperfeitas definições mortais para progresso, inteligência, e valor com o intuito de explicar seus correlativos imortais pode acabar numa tentativa fútil de imaginar sistemas preconceituosos e nocivos em esferas onde tais coisas não existem. 

Chegando na Terra: Circunstâncias Atuais e Possibilidades Futuras 
Após considerarmos algumas idéias sobre o ambiente pré-mortal, voltemos nossa atenção para a mortalidade. No passado alguns autores afirmaram que nossas atuais circunstâncias na terra (por exemplo: nacionalidades, raças, estado de saúde, renda, etc.) teriam nos sido impostas como recompensas ou punições por eventos desconhecidos ocorridos durante o estágio pré-mortal. Conquanto seja verdade que indivíduos são pré-ordenados no mundo pré-mortal, precisamos lembrar que a doutrina da pré-ordenação se refere a designações a serem cumpridas na mortalidade, e não deve ser automaticamente estendida a outros aspectos da experiência mortal.
Alguns escritores têm usado termos tais como: "afortunados" e "desafortunados" para categorizar os seres humanos de acordo com suas circunstâncias nesta vida. Eu levantaria outra palavra de cautela. O que queremos dizer quando afirmamos que um certo indivíduo é "desafortunado"? O adjetivo "afortunado" sugere sorte, acaso, ou fortuna. Se assim for, as pessoas têm inconscientemente avaliado umas às outras unicamente em termos de bem-estar material, ao invés de avaliarem fé, caridade, bondade, espiritualidade, e outras virtudes cristãs.
Além disso, existem outras implicações sutis e talvez mais sérias relacionadas com as consequências lógicas do coneito de ser "afortunado". Isso significaria que alguns se consideram mais abençoados? Mais amados? Melhores (isto é, de melhor qualidade) em comparação com outros? Tais categorizações mortais e imperfeitas frequentemente negam a imparcialidade das misericórdias do Senhor(14). E quem disse que conforto material e avanço tecnológico seriam os critérios que determinariam retidão e privilégios pré-mortais ou mortais?

Comparações baseadas em critérios mortais (nacionalidade, educação formal, poder econômico ou militar, posses materiais, confortos físicos) são o resultado de raciocínio humano imperfeito, geralmente ocidental, o qual tenta entender o mundo usando categorias e escalas baseadas em culturas locais, as quais por sua vez levam à divisão em classes. Por outro lado, o evangelho restaurado ensina que exaltação e vida eterna são inteiramente dependentes da nossa fé e obediência seguidas da misericórdia divina(15), e que a salvação é oferecida a todos, independente de circunstâncias materiais. Néfi ensinou:
"[O Senhor] nada faz que não seja em benefício do mundo; porque ama o mundo a ponto de entregar sua própria vida para atrair a si todos os homens. Portanto, a ninguém ordena que não participe de sua salvação. ... Porque ele faz o que é bom para os filhos dos homens; e convida todos a virem a ele e a participarem de sua bondade; e não repudia quem quer que o procure, negro e branco, escravo e livre, homem e mulher; e lembra-se dos pagãos; e todos são iguais perante Deus, tanto judeus como gentios.(16)"
Nesta dispensação o Senhor disse o seguinte:
"E novamente vos digo: Que todo homem estime a seu irmão como a si mesmo. Pois qual é o homem entre vós que, tendo doze filhos que o servem obedientemente e não faz acepção deles, diz a um: Veste-te com mantos e senta-te aqui; e ao outro: Veste-te com trapos e senta-te acolá-e olhando para seus filhos, diria: Sou justo? Eis que isto vos dei como parábola e é como eu sou. Digo-vos: Sede um; e se não sois um, não sois meus.(17)"
Baseados em passagens como estas, entendemos que nosso potencial e probabilidade de alcançar exaltação e vida eterna não são dependentes de eventos e circunstâncias da existência pré-mortal. É bem verdade que o Senhor declarou a Abraão que ele havia escolhido seus governantes dentre os nobres e grandes da pré-existência; contudo, o texto sagrado claramente indica que essa escolha se referiu a missões pré-ordenadas para a mortalidade, e não chances de salvação(18). Além disso, o profeta Joseph Smith declarou que não há garantias, nem mesmo para aqueles que foram santificados(19). Ser até mesmo uma autoridade geral da Igreja por si só não aumenta as chances de uma pessoa ser admitida na glória celestial. No máximo, tal chamado só aumenta o peso da responsabilidade colocada sobre os ombros daquele homem.Frequentemente ouvimos a pergunta: "Nascer numa família SUD ativa [e/ou num ambiente abastado] é evidência de fidelidade pré-mortal?" No passado alguns sugeriram que um nascimento sob tais circunstâncias "favoráveis" poderia ser visto como uma recompensa por ações justas na pré-existência. Entretanto, se tal idéia fosse verdadeira, como poderíamos explicar o nascimento de Abraão num lar onde o pai era idólatra e abusivo? Ou como explicaríamos o fato de que entre os primeiros 30 e poucos profetas e apóstolos dessa dispensação nenhum deles nasceu numa família SUD? Associar circunstâncias materialistas com recompensas pré-mortais negaria a possibilidade de os governantes pré-ordenados pelo Senhor estarem nascendo em todas as nações e sob uma variedade de circunstâncias sociais e econômicas.
No máximo, podemos seguramente afirmar que nascer numa família SUD ativa apenas aumenta a probabilidade-mas não necessariamente garante-que alguém irá cumprir aqui na terra certas partes de sua missão pré-ordenada, e isso nada terá a ver com ações ou disposições pré-mortais. 

A Hereditariedade de Bênçãos e Maldições 
É verdade que em algumas ocasiões na história das dispensações o Senhor amaldiçoou certos indivíduos ou grupos de indivíduos; contudo, uma leitura cuidadosa das escrituras revela duas idéias importantes: Em primeiro lugar, que maldições são tão hereditárias quanto bênçãos. E assim como as bênçãos dos pais são conferidas aos filhos somente sob a condição de retidão individual, da mesma forma, maldições só podem ser transferidas de uma geração para outra sob condição de iniquidade(20). Assim sendo, ao invés de linhagens e feições devemos observar os nossos corações a fim de encontrarmos o povo favorecido do Senhor(21). Em segundo lugar, observamos que detalhes cruciais a respeito daquelas maldições da antiguidade ainda não foram revelados. O Senhor declarou que toda lei (ou decreto) tem "certos limites e condições.(22)" Quando lemos que um certo povo foi amaldiçoado, frequentemente não perguntamos por que motivo eles foram amaldiçoados, nem sob que condições a maldição foi imposta, e mais importante, sob que condições a maldição poderia ser retirada.
Creio que neste ponto seria sábio apenas citar as palavras do profeta Joseph Smith comparando os julgamentos de Deus com os dos homens:
"... [Enquanto] uma parte da raça humana julga e condena a outra sem piedade, o grande Pai do universo vela por toda a família humana com cuidado e consideração paternais; e sem nenhum desses sentimentos mesquinhos que influenciam os filhos dos homens ... Ele ... é um Legislador sábio, e a julgará todos os homens, não de acordo com as estreitas e bitoladas noções humanas ... Não há razão para duvidar da sabedoria e do julgamento do Grande Jeová. Ele conferirá julgamento ou misericórdia a todas as nações, de conformidade com ... suas maneiras de obter conhecimento, as leis por meio das quais se governaram, suas facilidades em obter informações corretas, segundo os inescrutáveis propósitos divinos com relação à família humana.(23)"Todo o mundo religioso se [vangloria] da retidão; a doutrina do diabo consiste em entorpecer a mente humana e estorvar o nosso progresso, enchendo-nos de [virtude aos nossos próprios olhos.] Quanto mais nos [aproximarmos] de nosso Pai Celestial, mais haverá em nós a disposição de sermos misericordiosos com as almas que estão perecendo; sentiremos o desejo de levá-las sobre nossos ombros e suportar em nossas costas o peso de seus pecados. ... [Se] quereis que Deus seja misericordioso para convosco, sede [misericordiosos uns com os outros.](24)
"Nosso Pai Celestial é mais [liberal] em seus conceitos e mais [ilimitado] em suas misericórdias e bênçãos do que estamos dispostos a crer ou receber; e é, ao mesmo tempo, mais terrível para os que obram iniquidade, mais violento na execução de seus castigos e mais pronto para discernir todo caminho falso, do que supomos que seja.(25)"

Conclusão 
Hoje em dia ainda podem existir indivíduos que acham que esse ensaio sobre raças, pré-existência, e mortalidade seria irrelevante, inconsequente, e que deveria ser abandonado. Infelizmente, as tensões raciais e os conflitos étnicos presentes nos anos 90 mostram claramente que nós ainda não superamos rixas e preconceitos seculares. Porisso, essa discussão é não apenas válida como também necessária. Mas ao invés de confiar em discussões e propostas acadêmicas, eu também acredito que somente a palavra de Deus pode curar feridas e influenciar pessoas a praticar o que é justo(26). Como mencionei anteriormente, a doutrina do evangelho restaurado é sã. Os requerimentos para a exaltação são simples e imutáveis a despeito de culturas, raças, ou quaisquer outras variáveis mortais.
Ainda assim, após todas essas considerações, podem ainda existir aqueles que mantêm ressentimentos em relação a outros, que se sentem desconfortáveis com a idéia de encontrar ex-membros de diferentes grupos raciais e étnicos no reino celestial, e que prefeririam excluí-los de sua confraternidade. Eu convidaria tais pessoas a se arrependerem de tais sentimentos, lembrando-os que o Senhor e os céus choram com a falta de afeição no mundo(27). As escrituras sugerem que os portões do reino celestial só podem ser fechados pelo lado de fora. Ou em outras palavras, somente nossas ações-ou a má utilização do livre arbítrio-pode nos impedir de ser admitidos na presença do Senhor. Indivíduos que nutrem sentimentos preconceituosos não podem excluir dos céus alguém como eu sem primeiro excluir a eles próprios. Jacó declarou: "... o guardião da porta é o Santo de Israel; e ele ali não usa servo algum.(28)" Assim sendo, aqueles que não conseguem aceitar a idéia de se associar comigo na eternidade podem procurar um outro reino de glória para si mesmos.
Em relação às declarações feitas no passado, eu sugiro que inspecionemos mais cuidadosamente o histórico das Primeiras Presidências desde a revelação de 1978. As suas ações e decisões falam mais alto do que opiniões vagas e velhas interpretações de relatos escriturísticos fragmentários. Por que duvidar de que as bênçãos plenas do evangelho-incluindo exaltação e vida eterna-são mesmo oferecidas aos povos de todas as nações numa era em que profetas vivos estão dirigindo a construção de templos na África e Ásia numa velocidade sem precedentes?
Esta ainda não é a época de sacudir o pó de nossos pés imperfeitos-pelo menos até que sejamos específicamente instruídos a assim fazê-lo por profetas vivos. Por outro lado, esta é certamente a época de irmos a todo o mundo administrar as bênçãos, misericórdia, poder, e ordenanças salvadoras tornadas possíveis pela expiação de Jesus Cristo. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Correspondência:
Marcus H. Martins, Ph.D.Chefe, Departmento de Educação Religiosa 
Brigham Young University-Hawaii
 
Laie, Hawaii   96762 
E-mail: martinsm@byuh.edu
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Notas:
1. Esta é uma versão editada, expandida, e adaptada para a língua Portuguesa, de um discurso apresentado numa reunião do Genesis Group, um ramo de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em Salt Lake City, Utah, no dia 1 de Agosto de 1999.  Algumas das idéias incluidas neste ensaio haviam sido apresentadas anteriormente em monografias e discursos datados desde Março de 1995.
2. Doutrina & Convênios 18:10
3. Novo Testamento, Atos 20:28; 1 Coríntios 6:20; 7:23
4. Livro de Mórmon, Mosias 15:1-4; Alma 34:10,14
5. O profeta Joseph Smith ensinou: "... o próprio Deus, o Pai de todos nós, habitou sobre uma terra ...," e o presidente Lorenzo Snow declarou: "O homem é como Deus já foi; E pode vir a ser como Deus é." (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, página 337; Teachings of Lorenzo Snow, p.2)
6. Doutrina & Convênios 121:7; 24:8; 31:9; Novo Testamento, Mateus 18:7. Colchetes adicionados com texto da versão do Rei Tiago (em Inglês). Em Português lê-se "escândalos" ao invés de "ofensas".
7. Convém lembrar que esta opinião pessoal é baseada no conhecimento disponível atualmente (1999). Futuras declarações proféticas trarão maior luz sobre esse assunto.
8. Doutrina & Convênios 93:35
9. Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, página 347
10. Observemos que o termo "alma" é definido nas escrituras como a união de um espírito imortal com um corpo mortal. Veja Doutrina & Convênios 88:15
11. Journal of Discourses 1:8
12. Journal of Discourses 3:101-103; colchetes adicionados
13. Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, páginas 184, 317
14. Salmos 145:9
15. 2 Néfi 25:23
16. 2 Néfi 26:24, 33
17. Doutrina & Convênios 38:25-27
18. A Pérola de Grande Valor, Abraão 3:22-26
19. Doutrina & Convênios 20:29-34
20. Deuteronômio 24:16; Ezequiel 18:20; D&C 103:25-26; 124:50
21. 1 Samuel 16:7
22. Doutrina & Convênios 88:38
23. Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, página 213
24. ibid., página 235. Colchetes adicionados com tradução alternativa que faz a citação ficar mais próxima do original em inglês.
25. ibid., páginas 250-251. Colchetes adicionados-ver nota de rodapé anterior.
26. Livro de Mórmon, Jacó 2:8; Alma 31:5
27. A Pérola de Grande Valor, Moisés 7:33, 37
28. 2 Néfi 9:41