quarta-feira, 10 de julho de 2013

Honrar o Sacerdócio



Élder Russell M. Nelson 
Do Quórum dos Doze Apóstolos
“Honoring the Priesthood” (Honrar o Sacerdócio), Conference Report, abril de 1993, pp. 49–53; ou Ensign, maio de 1993, pp. 38–41


Honrar o sacerdócio
Irmãos, relativamente pouco tem sido escrito sobre o tema do meu discurso.1 Ainda assim, espera-se que cada um de nós tenha um bom conhecimento dele. Estou falando de honrar o sacerdócio.
Esta é A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Aquele que permanece à testa da Igreja restaurada assim ordenou ao sacerdócio:
“Que todo homem, porém, fale em nome de Deus, o Senhor, sim, o Salvador do mundo (…)”.
(D&C 1:20) Impressionante! Ele escolheu honrarnos com o Seu sacerdócio. Assim, nós O honramos honrando o sacerdócio—tanto o seu poder como os seus portadores. Procedendo assim, homens, mulheres e crianças de todo o mundo serão abençoados. Honrar o sacerdócio nutre o respeito, o respeito promove a reverência, e a reverência convida a revelação.2
O Presidente Ezra Taft Benson pediu-nos especificamente que sigamos os apropriados princípios do protocolo do sacerdócio, os quais, observou ele, “muitos de nós temos aprendido por meio de observação enquanto ouvimos nossos superiores hierárquicos”. Ele disse: “O protocolo é uma prática estabelecida há muito tempo, que prescreve completa deferência a (…)
uma ordem de procedimentos corretos”.3 Citarei o Presidente Benson e outros líderes porque, como irão notar, grande parte da minha mensagem referir-se-á a este protocolo. 

Tipos de organização
Há diferenças, tanto nas práticas como na organização, entre a Igreja do Senhor e as instituições humanas. Homens e mulheres podem criar associações entre si e ser governados por normas de aceitação recíproca. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, entretanto, não é uma democracia, nem uma república. É um reino—o reino de Deus na Terra. Sua Igreja é hierárquica, onde a autoridade maior se situa no topo. O Senhor dirige os Seus servos ungidos.
Eles testificam a todo o mundo que Deus tem falado novamente. Os céus foram abertos. Um vínculo vivo foi formado entre os céus e a Terra em nossos dias.
Essa autoridade suprema é apoiada sobre um alicerce seguro que obedece a um padrão de organização estabelecido desde a antigüidade.
Jesus Cristo é a principal pedra de esquina, com apóstolos e profetas, bem como todos os dons, poderes e bênçãos que caracterizaram a Igreja nos dias antigos. (Ver I Coríntios 12:28.) 

Líderes e títulos
Há uma diferença entre os padrões de liderançaespirituais. As organizações humanas são
governadas por oficiais cujos títulos conotam posição ou realizações. Quando nos dirigimos a um oficial militar, juiz, senador, doutor ou professor, mencionamos o seu título. Prestamos a honra devida aos indivíduos que alcançaram tais posições. 
Em contraste, o reino de Deus é governado pela autoridade do sacerdócio, que não é conferido para honra, mas para um ministério de serviço. Os títulos do sacerdócio não foram criados por homens; não existem para ornamento, nem expressam superioridade. Eles descrevem designações de serviço na obra do Senhor. Não somos chamados, apoiados e ordenados por nós mesmos, mas “por profecia e pela imposição de mãos, por quem possua autoridade, para pregar o evangelho e administrar suas ordenanças”. (Quinta Regra de Fé, ver também Hebreus 5:4.)
Os títulos pertencentes ao santo sacerdócio merecem nossa mais elevada consideração e respeito. Cada membro da Primeira Presidência deve ser mencionado e tratado como “Presidente”. (Ver D&C 107:22, 24, 29). O título Presidente também é usado quando nos referimos à presidência de uma estaca ou missão, ou a um presidente de ramo ou quórum do sacerdócio. O título Apóstolo é sagrado. Ele é dado por Deus e pertence somente àqueles que foram chamados e ordenados como “(…) testemunhas especiais do nome de Cristo no mundo todo”. (D&C 107:23)
Um Apóstolo fala em nome daquele a quem representa como testemunha especial. Este título sagrado não é usado como forma de tratamento. 
Preferivelmente devemos usar o título de Élder ou “Irmão” ao nos referirmos a um dos Doze.
O título bispo também se refere a presidência; o bispo é o presidente do Sacerdócio Aarônico da ala e é o sumo sacerdote que preside as organizações da ala. Reverentemente nos referimos a ele como “o bispo”.
Élder é um título sagrado compartilhado por todos os portadores do Sacerdócio de Melquisedeque.

Um conselho abrangente
Permitam que lhes dê um conselho de natureza genérica, inicialmente no que se refere às Autoridades Gerais. Nós os reconhecemos como instrumentos nas mãos do Senhor, mesmo conhecendo sua natureza humana. Eles necessitam de cortes de cabelo, serviços de lavanderia e até de  alguns lembretes ocasionais como qualquer um. 
Certa vez o Presidente Benson nos contou uma história para ilustrar o assunto. Ele disse: “Orson F. Whitney (…) era um homem com um grande poder de concentração. Certo dia, em uma viagem de trem, ele estava tão preocupado que não percebeu o trem passar pela estação onde deveria descer. Assim, teve que pegar uma condução para voltar àquele ponto. Enquanto isso, o presidente de estaca continuava esperando (…) e finalmente chegou à conclusão de que algo devia ter acontecido e que o Irmão Whitney não viria para a reunião, e decidiu começar a conferência. Ao aproximar-se, o Élder Whitney foi saudado pelas palavras do primeiro hino, ‘ó pobres corações, que desgarrados vagais (…)’”4
Honramos esses homens por causa de seu extraordinário chamado. Os seus atos oficiais são válidos na Terra e nos céus. Lembro-me muito bem da primeira vez em que estive com uma das Autoridades Gerais. Foi um sentimento indescritível. Embora eu fosse apenas um menino, imediatamente—quase instintivamente—me levantei. Até hoje me sinto da mesma maneira quando um dos Irmãos entra no recinto. Uma Autoridade Geral é um oráculo de Deus.
Freqüentemente mencionamos as chaves da autoridade do sacerdócio. Quinze homens que vivem hoje—a Primeira Presidência e os Doze— foram ordenados Apóstolos e receberam todas as chaves da autoridade do sacerdócio. O Presidente Gordon B. Hinckley explicou recentemente:
“Somente o Presidente da Igreja tem o direito de exercer a plenitude [dessas chaves]. Ele poderá delegar o direito de exercer várias delas a um ou mais dos seus Irmãos. (…)
Tais prerrogativas foram concedidas pelo Presidente Benson aos seus conselheiros e aos Doze de acordo com as diversas responsabilidades a eles delegadas.”5
Por designação da Primeira Presidência e dos Doze, as Autoridades Gerais conferem as devidas chaves a presidentes de estaca e missão, que por sua vez conferem as chaves requeridas a bispos, presidentes de ramo e de quóruns.
A cada portador do sacerdócio é designado um líder amoroso, porque “(…) minha casa é uma casa de ordem, diz o Senhor Deus, e não uma casa de confusão”. (D&C 132:8)
Esta ordem estabelece também os limites da revelação. O Profeta Joseph Smith ensinou que “é contrário ao sistema de governo de Deus que um membro da Igreja, ou qualquer outra pessoa, receba instruções para alguém cuja autoridade seja maior do que a sua”.6 
O mesmo princípioestabelece que ninguém pode receber revelações para alguém que se encontre fora dos limites definidos da sua responsabilidade.
Honrar o sacerdócio significa também honrar o próprio chamado. Algumas regras que poderão ser úteis:
Aprender a ouvir e aceitar conselhos. Procurar orientação dos líderes constituídos e aceitá-las de boa vontade.
Não falar mal dos líderes da Igreja.
Não ambicionar um chamado ou posição.
Não opinar sobre quem deveria ou não ter sido chamado.
Não recusar uma oportunidade de servir.
Não pedir desobrigação. Informar os líderes sobre a mudança das circunstâncias na vida, certo de que os líderes pesarão todos os fatores quando, em espírito de oração, estiverem decidindo sobre o tempo adequado para a desobrigação.

Aquele que faz um chamado e aquele que o recebe tornam-se igualmente responsáveis. Citarei o Élder James E. Talmage: “Aqueles por meio de quem o chamado veio a um homem (…) são indubitavelmente considerados responsáveis por seus atos como ele é pelos dele; e de cada um será requerida uma detalhada prestação de contas de sua mordomia, um relato completo do seu serviço ou da sua negligência, do uso ou do abuso na administração da confiança nele depositada.”7
Alguns aspectos do sacerdócio não estão vinculados a título ou posição. A autoridade para administrar uma bênção do sacerdócio, por exemplo, depende unicamente de ordenação e dignidade. O Senhor não privaria nenhum de Seus filhos de alguma bênção devido à falta de alguém com um chamado específico. Todo élder na Igreja possui o mesmo sacerdócio que o Presidente da Igreja.
Irmãos, lembrem-se, por favor: O mais alto grau de glória está à sua disposição somente por meio daquela ordem do sacerdócio ligada ao novo e sempiterno convênio do casamento. (Ver D&C 131:1–4.) Portanto, sua prioridade em honrar o sacerdócio consiste em honrar sua companheira eterna. 

Um conselho específico
Agora serei mais específico no aconselhamento. Maridos e pais: com sua querida companheira, moldem as atitudes em seu lar. Estabeleçam um padrão de oração. Orem regularmente e em voz alta por seus líderes do sacerdócio e das organizações auxiliares, locais e gerais. Sua atitude de cortesia em casa e de reverência na capela será copiada pelos membros de sua família. Ajudem os seus entes queridos a seguirem os canais apropriados quando procurarem orientação. Ensinem que o aconselhamento deve ser recebido de pais confiáveis e de líderes locais, e não das Autoridades Gerais. Nas duas últimas décadas, a Primeira Presidência publicou essencialmente a mesma carta seis vezes para reafirmar esta diretriz.
Pais, vocês compreendem o princípio da auto suficiência temporal e procuram prover o armazenamento para um ano, em seu lar. Pensem também na necessidade de armazenamento de recursos espirituais—não apenas para um ano, mas para toda a vida—igualmente guardados no lar. Um pai digno deve ser sempre o primeiro a ter a oportunidade de abençoar os membros de sua família. Com o passar do tempo, os filhos poderão fazer retiradas desse reservatório espiritual, dignos de administrarem às suas próprias famílias e também a seus pais.
Agora para os rapazes que portam o Sacerdócio Aarônico (ou preparatório): Se o honrarem, prepararem-se para cumprir uma missão e estiverem dignos para serem chamados como missionários, eu lhes prometo: Irão então “falar em nome do Senhor Deus” e levar Sua luz para as almas que a procuram. Para elas serão como um anjo ministrador, que será para sempre lembrado com amor. (Ver D&C 13.)
Embora minhas próximas palavras sejam dirigidas aos amados presidentes e bispos, os princípios aplicam-se a todos. Quando aquele que os presidem entrarem em uma reunião que vocês estiverem presidindo, por favor, consultem-no imediatamente, pedindo-lhe instruções. Inteiremse dos seus desejos. Concedam-lhe tempo adequado para transmitir sua mensagem. Uma comovente ilustração foi feita certa vez pelo Élder James E. Faust:
“Fiquei sabendo do pesar sofrido pelos membros de uma estaca deste vale quando sua presidência foi reorganizada. O oficial presidente era um dos apóstolos mais venerados, ímpar em toda a história da Igreja, [Élder] Le Grand Richards, já com mais de 90 anos, porém lúcido e alerta. Durante a conferência, os oradores locais tomaram quase todo o tempo, deixando para o Élder Richards apenas dez ou quinze minutos. O que foi que ele fez? Estendeu o tempo? Não, ele prestou um breve testemunho e encerrou a reunião na hora certa.
Não que os membros da estaca quisessem que a reunião durasse mais do que o tempo regulamentar (…). No entanto, ficaram tristes por seus membros, que teriam outras oportunidades de ouvir os líderes locais, porém poderiam não ter, como na verdade não mais tiveram, a oportunidade de ouvir o seu querido Apóstolo.
Resumindo, os oradores não respeitaram o oficial presidente.”8
Ninguém deverá usar da palavra depois que uma Autoridade Geral houver discursado. Depois que a reunião tiver terminado, presidentes e bispos, permaneçam ao lado de seu líder constituído até serem dispensados. Ele pode sentir-se inspirado a dar alguma instrução ou ensinamento adicional. E vocês poderão também evitar problemas. Por exemplo, se algum membro dirigir a seu líder uma pergunta que não deveria ser feita a ele, vocês estarão lá para responder a ela.
Agora, alguns comentários sobre o sumo conselho da estaca. Ele não tem presidente. Ele não tem autonomia e se reúne, mesmo quando dividido em comitês, a chamado e sob a direção da presidência da estaca. Ainda que os membros do sumo conselho possam assentar-se na ordem dos seus chamados para o conselho, nenhum deles tem ascendência sobre outro.
Em contraste, a ascendência é honrada entre os apóstolos ordenados—até mesmo ao entrar ou sair de uma sala. O Presidente Benson relatou-nos o seguinte:
“Há alguns [anos], o Élder Haight concedeu uma deferência especial ao Presidente Romney na sala superior do templo. O Presidente Romney estava-se demorando por alguma razão, e [Élder Haight] não queria precedê-lo na saída. Quando o Presidente Romney fez sinal para que [ele] saísse, o Élder Haight respondeu, ‘Não, Presidente, o senhor primeiro’.
Bem-humorado, o Presidente Romney respondeu, “O que há, David? Está com medo que eu roube alguma coisa?’”9
Esta deferência de um apóstolo júnior para com um sênior está registrada no Novo Testamento. Quando Simão Pedro e João, o amado, correram para investigar a informação de que o corpo do Senhor crucificado fora levado do sepulcro, João, sendo mais jovem e mais ágil, chegou primeiro, porém não entrou. Ele esperou o apóstolo mais antigo entrar primeiro. (Ver João 20:2–6.) A ascendência no apostolado tem sido há muito tempo o meio pelo qual o Senhor seleciona o Seu Sumo Sacerdote presidente.

Repreensão e arrependimento
Irmãos, estas questões são importantes. Há mais de um século e meio, o Senhor repreendeu severamente o Seu povo. Estas são as palavras:
“Em verdade, a condenação paira sobre vós, que fostes estabelecidos para conduzir a minha Igreja (…) e também sobre a Igreja; e é necessário que haja arrependimento e mudança entre vós, em todas as coisas, nos vossos exemplos diante da Igreja e perante o mundo, em todos os vossos modos, hábitos e costumes, e a maneira de vos saudardes; dando a cada um o respeito devido ao ofício, chamado e sacerdócio para os quais eu, o Senhor, vos indiquei e ordenei.”10
Se algum de nós também for culpado de tratar com leviandade estas coisas sagradas, que se arrependa e se decida honrar o sacerdócio e aqueles a quem o Senhor tem confiado Suas chaves.
Irmãos, proclamamos a toda a humanidade estas verdades eternas: “O Sacerdócio de Melquisedeque tem o direito de presidir, e tem poder e autoridade sobre todos os ofícios da igreja em todas as épocas do mundo (…)”. (D&C 107:8) 
Este poder possui “(…) as chaves de todas as bênçãos espirituais da igreja”. (D&C 107:18) Que possamos honrar integralmente este sacerdócio, eu oro em nome de Jesus Cristo, amém.



Notas
1. Talvez o leitor deseje consultar James E. Talmage, “The Honor and Dignity of Priesthood”, reproduzido por James R. Clark em Messages of the First Presidency, 6 volumes. (Salt Lake City: Bookcraft, 1965–1975), 4:305–309.
2. O Presidente George Q. Cannon disse: 
“[Honrar o Presidente da Igreja] nos motivará a nos achegarmos ao Pai e a vivermos de modo a receber Suas revelações para nós mesmos, para que o conhecimento que vem do Espírito esteja em nosso coração, para que a voz do verdadeiro Pastor seja conhecida por nossos ouvidos, para que quando a ouvirmos possamos reconhecê-la (…). 
Este é o privilégio dos santos dos últimos dias, e qualquer pessoa desta Igreja que não viver de modo a desfrutar este privilégio permanece muito aquém do que poderia ser”. (Journal of Discourses, 19:110)
3. “The Unique Commission of a General Authorityl”, (Reunião de Treinamento de Autoridades Gerais, 2 de outubro de 1985, p.5.)
4. “Comission”, p.1.
5. Conference Report, outubro de 1992, p. 77; ou Ensign, novembro de 1992, p. 54.
6. Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, comp. Por Joseph Fielding Smith, p. 23.
7. Messages of the First Presidency, 4:306.
8. James E. Faust, “Um Setenta É uma Autoridade Geral”, Sessão Especial de Treinamento para os Setenta, 29 de setembro de 1987, p. 4.
9. “Commission”, p. 9.
10. History of the Church, 2:177.

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